Pesquisa feita pela PROTESTE Associação de Consumidores sobre a prescrição indevida de antibióticos, constatou que
metade dos 30 clínicos gerais consultados na cidade do Rio de Janeiro receitou esse medicamento para pacientes simulando uma dor inexistente.
Totalmente desnecessário, pois os voluntários não tinham qualquer sintoma do problema.A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que os médicos prescrevam e a população utilize antibióticos com muito cuidado. Mas a pesquisa constatou que esta cautela ainda não foi adotada por alguns profissionais da saúde.
Com o uso frequente, as bactérias presentes no organismo vão sofrendo alterações até se tornarem totalmente resistentes a eles.
Também foram visitadas 28 farmácias e drogarias, onde o comportamento foi mais criterioso:
só uma vendeu esse medicamento sem receita a um dos voluntários, a Drogaria Cristal, do Leme.
O Código de Defesa do Consumidor estabelece o respeito à saúde das pessoas. Nenhum produto ou serviço deveria ameaçar a integridade dos seres humanos.
Sendo assim, esses médicos infringiram o CDC, porque o uso indiscriminado de antibióticos é uma ameaça à saúde. Quando usado sem critério, em vez de curar, esse tipo de medicamento pode deixar nosso organismo mais resistente às bactérias. Consequentemente, quando realmente estivermos com uma infecção, talvez não haja remédio eficaz contra ela.
A PROTESTE sugeriu à Associação Médica Brasileira que promova, entre os especialistas,
campanhas de conscientização quanto à prescrição criteriosa de antibióticos. A farmácia que vendeu o medicamento sem receita foi denunciada à Vigilância Sanitária.Para realizar o estudo, foi pedido a colaboradores saudáveis que, anonimamente, fossem a 30 consultórios de clínica geral e a 28 farmácias e drogarias, entre julho e agosto, na cidade do Rio de Janeiro.
O objetivo era verificar a postura dos médicos quanto à prescrição de antibióticos e confirmar se farmácias os vendem sem receita. Foram agendadas consultas com médicos particulares. Elas duraram, em média, 15 minutos. Os valores pagos variaram de R$ 80 a R$ 400, sendo que 20 pacientes receberam recibo sem pedir.
Nas consultas, os voluntários diziam que sentiam dor de garganta há cerca de três dias, mas sem outro sintoma, como febre. Se, após o diagnóstico e a definição do tratamento, o médico não prescrevesse um antibiótico, os colaboradores deveriam perguntar: "Não seria melhor tomar um antibiótico?" Caso o médico se recusasse a prescrevê-lo, o voluntário não insistia. Nas farmácias, os voluntários, sem receita, diziam ao balconista: "Estou com uma dor de garganta há cerca de três dias. Poderia me vender um antibiótico?".
Antes de prescrever o antibiótico, todos os 30 médicos perguntaram se os voluntários tinham febre. E 22 questionaram se tinham dores no corpo; 18 se estavam com nariz entupido; 18 se tinham dor para engolir; 18 se tossiam muito; 14 se tinham secreção no nariz; 13 se tinham dor no ouvido; e 12 se haviam tomado algo para dor.
Ao final das 30 consultas, 11 médicos receitaram antibióticos espontaneamente. Três prescreveram os medicamentos após o paciente pedir – o mais frequente foi a azitromicina – contrariando todas as recomendações sobre o uso cauteloso desses fármacos. Ainda que três deles tenham alertado os pacientes a tomar o medicamento apenas em caso de piora dos sintomas ou aparecimento de febre, a prescrição de um antibiótico era desnecessária nesses casos.
Além disso, mesmo que faça advertências aos pacientes, existe a probabilidade de que eles as ignorem tomando o medicamento logo, sem necessidade.
Os 16 médicos restantes afirmaram que não prescreveram antibióticos por não julgarem necessário ou porque o paciente não tinha febre. Quatro deles alertaram para a necessidade de um uso mais racional desses medicamentos.
Fonte: Proteste