MAX AUGUSTO
*Jornalista, Editor de Política do JORNAL DA CIDADE e do BLOG DO MAX
Aracaju ainda guarda em seus recantos um ar de idade média. Sim, essa é a sensação ao se ver nas ruas veículos de tração animal (as indefectíveis carroças) transportando materiais de construção, lixo, entulho, galhos de árvores... O motor a vapor foi aperfeiçoado há mais de 200 anos; o motor a combustão interna tem mais de cem anos e ainda se vê no trânsito de Aracaju uma forma de transporte utilizada há mais de cinco mil anos.
A cidade precisa estudar com urgência o banimento deste tipo de veículo em suas ruas. Por diversos motivos. O primeiro: as carroças causam enormes transtornos no trânsito. Nas estreitas ruas e avenidas da capital, quando ocupam uma faixa, geram uma fila atrás de si e motoristas aperreados tentando mudar para a outra faixa. E quando há ônibus atrás delas?
Esses condutores, inabilitados, desrespeitam regras básicas de trânsito e são um incômodo para os motoristas, que se veem obrigados a atentar para mais um problema no ensandecido trânsito da cidade.
Descarte irregular de entulhos
Mas há outro ponto: grande parte dos serviços prestados por esses homens que utilizam o animal para garantir o seu ganha-pão é o de descarte de lixo e entulho. Tradicionalmente, o carroceiro é chamado para levar restos de construção, galhos de árvores e muito mais. Só que a grande maioria faz o descarte desses materiais em locais inadequados, como terrenos baldios, praças abandonadas. Isso gera o segundo problema, que tem duas vertentes: a sujeira no espaço público e o problema ambiental, gerado pela destinação equivocada de materiais que poderiam ser aproveitados.
Maus-tratos
Ainda há mais. Bem conhecidos são os maus-tratos que os bichos sofrem. Mesmo servindo de sustento a várias famílias, são chicoteados de forma violenta, que geram feridas em seu dorso. A atitude gera revolta em quem vê, mas muitas vezes não há o que ser feito. Há ainda os que sobrecarregam os animais, com excesso de peso nas carroças, muitas vezes subindo e descendo ladeiras ou enfrentando ruas sem calçamento. Sem falar que estando em zona urbana eles não possuem abrigo, vacinação e alimentação adequados.
Dez mil carroceiros
O hábito está tão arraigado na nossa cultura que a unidade de medida utilizada pela maioria das casas de materiais de construção é a “carroçada”. Para se ter uma ideia da dimensão do problema, algumas ONGs avaliam que existem hoje cerca de 10 mil carroceiros na Grande Aracaju. Por isso é tão difícil acabar com o serviço. Essa decisão demandaria um esforço para receber os animais que seriam descartados, além de um encaminhamento para os homens que trabalham na área.
Para eles, haveria duas soluções: cadastrá-los e encaminhá-los a programas de formação técnica, para que aprendam outras profissões. Essa é a possibilidade mais viável. Outra seria a criação de programas de microcrédito, para que os trabalhadores adquiram veículos e continuem na mesma área de atuação, ou pudessem iniciar pequenos negócios. Ou seja, é um problema de difícil solução, não há dúvidas. Mas precisamos enfrentá-los.
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