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Letalidade da covid-19 em Aracaju é duas vezes maior em bairros mais pobres, diz estudo da UFS 7 de Agosto 10H:36
COTIDIANO | Por Max Augusto

Letalidade da covid-19 em Aracaju é duas vezes maior em bairros mais pobres, diz estudo da UFS

Pesquisa foi publicada em revista científica da International Society of Travel Medicine

As altas taxas de letalidade do novo coronavírus nas zonas Norte e Oeste de Aracaju estão relacionadas à condição de vida da população em bairros mais pobres. É o que mostra o artigo publicado por pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe (UFS), nesta quinta-feira, 6, no Journal of Travel Medicine, da Sociedade Internacional de Medicina de Viagem (ISTM).

+ Leia aqui a publicação na íntegra

Com a população da capital do estado estimada em 657.053 habitantes, segundo o IBGE, a pesquisa levou em conta a taxa de alfabetização de 93,7% da população, o número médio de habitantes por domicílio de 3,37, a proporção de domicílios de baixa renda de 42,9%, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,770, e a distribuição dos 42 bairros em quatro zonas urbanas (Norte (13), Sul (10), Leste (11) e Oeste (8)).

Conforme os boletins epidemiológios do município até o dia 14 de julho, a taxa de incidência era de 322,8 casos para cada 10 mil habitantes, e a de letalidade de 2%. Até então, Aracaju tinha registrado 21.207 casos e 429 mortes em decorrência da doença.

A partir desses dados, para avaliar o nível de desigualdade por área, foi calculado o ICV. O Índice de Condição de Vida é determinado a partir da pontuação de três fatores: educação (proporção de domicílios encabeçados por pessoas analfabetas), renda (proporção de domicílios com ganhos menores de ¼ do salário mínimo per capita) e moradia (proporção de domicílios em aglomerados subnormais, a exemplo de favelas, lotes, vilarejos, etc).

O índice varia entre 3 e 90, sendo que de 3 a 24 é considerado alto, 25 a 44 é intermediário, 45 a 60 é baixo, e, por fim, 62 a 90 é muito baixo. Isso significa que quanto maior é o índice, pior é a condição de vida daquela população.

Os 42 bairros de Aracaju foram agrupados pelas faixas do ICV. Nisso, 10 bairros da capital sergipana foram classificados com índice alto (8 da Leste, 1 da Oeste, 1 da Sul e 0 da Norte); 10 intermediários (3 da Leste, 2 da Oeste, 4 da Sul e 1 da Norte); 10 baixos (0 da Leste, 3 da Oeste, 2 da Sul e 5 da Norte), e 12 muito baixos (0 da Leste, 2 da Oeste, 3 da Sul e 7 da Norte). Nessas faixas, as taxas de letalidade e incidência da doença foram 0,8% e 398,4, 1,2% e 195, 1,7% e 248,2, e 2% e 193,4, respectivamente.

Depois de analisar os dados epidemiológicos e sociais por zona urbana, os pesquisadores concluíram que a taxa de letalidade do novo coronavírus em Aracaju é duas vezes maior em bairros com IVC baixo em comparação a localidades com IVC alto.

"Geograficamente, as maiores estimativas de letalidade do município foram observadas nas zonas Norte e Oeste, que têm um grande número de bairros socioeconômicos desfavorecidos. Aproximadamente, 57% dos bairros (12 de 21) nessas zonas tinham taxa de letalidade superior a 1,5%," explica um dos autores do estudo e coordenador do Laboratório de Patologia Investigativa da UFS, professor Paulo Martins Filho.

Ele ainda ressalta que a diferença entre a incidência de casos e a taxa de letalidade da doença é resultado das condições precárias de vida e da co-ocorrência de doenças não-transmissíveis, uma vez que "as pessoas mais vulneráveis têm menos possibilidade de ter “educação, saneamento adequado, acesso a água limpa para lavar as mãos, oportunidade de trabalhar em escritório em casa e acesso aos cuidados de saúde."

Outro aspecto observado é a dificuldade das comunidades mais vulneráveis em manter as medidas de distanciamento social, a fim de evitar a propagação do novo vírus respiratório. "As pessoas pobres têm maior probabilidade de viver em casas lotadas e apresentam condições médicas subjacentes, incluindo hipertensão e diabetes que são considerados fatores de risco severo para o novo coronavírus," pontua o pesquisador.

A pandemia revela "desigualdades históricas e as comunidades pobres mostraram recursos limitados de testes e taxas mais altas de fatalidade da covid-19 em comparação com as comunidades com melhores condições de vida," complementa.

Como os dados foram obtidos pelo sistema de vigilância do município e diante da provável subnotificação de casos da doença, os autores ressalvam, por conta disso, a limitação da análise. No entanto, a publicação ratifica que as "descobertas mostraram que os bairros mais pobres têm registros mais baixos de covid-19, mas taxas mais altas de fatalidade em comparação com os bairros com melhores condições de vida."

Além de Paulo Ricardo Saquete Martins Filho, o novo estudo epidemiológico desenvolvido no âmbito do Projeto EpiSergipe foi assinado pelos professores Adriano Antunes Araújo e Lucindo Quintans Júnior (UFS) e Victor Santana Santos (UFAL).

Abel Victor e Josafá Neto | Rádio UFS

 

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