*Por MAX AUGUSTO
A realização de
eleições primárias, como acontece nos Estados Unidos, poderia ser muito bom para o Brasil. Os benefícios seriam vários:
diminuição do poder que os caciques exercem em seus partidos, mais tempo para discussão de propostas e para conhecer os candidatos e maior participação da população, entre outras coisas. Num momento em que tanto se fala de reforma política, vamos deixar claro que o
Brasil rema na direção contrária dos americanos. A campanha presidencial nos Estados Unidos dura quase um ano, enquanto no Brasil, o prazo foi reduzido de 90 para apenas 45 dias.
Isso só é bom para os partidos e para os políticos, que vão gastar menos, pois não precisarão sustentar mega-estruturas durante meses.
O processo de primárias estimula a participação da população. Qualquer um pode se candidatar a um cargo majoritário, sendo submetido ao crivo dos eleitores. Isso mina o domínio de caciques, que muitas vezes definem os nomes nos subterrâneos da política. A indicação da pessoas que disputará a presidência se dá em meio a conchavos, muitas vezes durante um jantar.
Mesmo filiado a um partido, sem a simpatia dos que comandam a sigla, ninguém pode entrar na disputa eleitoral. Isso é ruim, pois deixa a disputa sem surpresas, sem novidades. E tudo o que a população brasileira pede nesse momento, são
caras novas na política.Barack Obama, por exemplo, surgiu como candidato que não era o preferido pela cúpula do partido Democrata. Ele ganhou nas primárias, no voto, o direito de disputar a eleição.
No cenário atual, temos dois candidatos ‘independentes’, que surjem fora do ninho de crias das grandes lideranças dos Democratas e Republicanos:
Bernie Sanders e Donald Trump. Os dois são responsáveis pela introdução e aprofundamento do debate em uma série de pontos polêmicos na corrida presidencial. Esse cenário seria impossível no Brasil, graças à estrutura “encabrestada” dos partidos políticos.
Outro ponto interessantíssimo: em um ano de campanha,
a vida e trajetória dos candidatos é esmiuçada ao extremo. Para sobreviver a dez meses de intenso embate eleitoral, há de se ter um bom histórico de vida, sem máculas. Isso
porque todas elas serão investigadas e expostas pelos seus adversários. Há aí um filtro interessantíssimo.
E mais:
são dez meses de debate sobre temas que realmente interessam ao país. Intercalados por absurdas intromissões na vida privada dos adversários, é verdade. Mas os temas são debatidos à exaustão, e os pré-candidatos são obrigados à moldar suas plataformas de acordo com o perfil do seu eleitorado.
O candidato que chega com a plataforma de governo mais aprovada pelo povo, vai ganhando destaque e pauta o debate e até mesmo o plano de governo de todos. Sabemos que o sistema americano não é perfeito. Além de coisas incompreensíveis como o ‘caucus’, termo que não dá nem pra traduzir para o português,
a escolha de delegados e superdelegados gera distorções que algumas vezes chegaram a colocar em cheque a legitimidade dos presidentes eleitos.
Vamos deixar claro também: nunca gostei deste ‘complexo de vira-lata’, onde brasileiros fazem comparações
auto-depreciativas entre seu país nações europeias ou Estados Unidos.
Os países tiveram desenvolvimentos diferenciados, a partir da construção histórica de cada um. A riqueza de alguns tem como base a pobreza de outros, essa é uma discussão longa.
Mas o fato é que devemos
analisar o que acontece pelo mundo e pensar em trazer para nós o que parece ser relevante. Ouço muito falar em reforma política, mas vejo poucas coisas que podem realmente fazer diferença no processo político do Brasil. Penso que a introdução de um sistema de eleições primárias seria um passo muito interessante, e convido o caro leitor a pensar a respeito.
*Jornalista, Editor de Política do JORNAL DA CIDADE