Comunismo x socialismo nas eleições dos Estados Unidos

MAX AUGUSTO
*Jornalista, Editor de Política do JORNAL DA CIDADE


Em tempos de coxinhas, petralhas e muita desinformação circulando no ambiente virtual, assusta ver que algumas pessoas vem utilizando termos como “socialismo” e “comunismo” de forma totalmente equivocada. Embebecida pela leitura superficial de peças veiculadas em redes sociais, pessoas transformaram esses termos em uma espécie de xingamento, um rótulo imposto à setores da esquerda – inclusive a setores que se afastaram muito destas utopias. Sem o conhecimento básico que poderiam ter obtido com leituras ou em universidades, como tentar explicar a essas pessoas o que é comunismo e capitalismo, na pós-modernidade?

Temos hoje um excelente exemplo, praticamente auto-explicativo: as primárias presidenciais dos Estados Unidos. De um lado temos o empresário milionário, símbolo do capitalismo americano: Donald Trump.Com língua solta e apelo popular, ele domina o noticiário brasileiro, como se não houvesse outra novidade na disputa presidencial: o senador Bernie Sanders, que se declara socialista e briga com Hilary Clinton para ser o candidato dos democratas.

Sanders passou a maior parte do tempo sendo solenemente ignorado por setores da imprensa do Brasil. E quando começou a aparecer, é citado sempre como um nome sem força para atrapalhar Clinton. Mas ele tem se mantido na disputa, ganhando colegiados importantes, mesmo disputando com um nome forte (Clinton), muito bem financiado, apoiado por diversos segmentos empresariais e sociais nos estados unidos.

Mas o fato é: quais são as propostas que o capitalista Trump e o socialista Sanders têm apresentado à sociedade americana? Elas são a senha para uma discussão civilizada, construtiva e inteligente sobre capitalismo e socialismo nos dias de hoje. Para muito além do “fora PT e vá pra Cuba”. Vejamos um rápido apanhado.

Trump
Como pré-candidato Republicado, Donald Trump chega carregando as tradicionais convicções conservadoras do partido. Mas avança e apresenta “inovações”. Entre elas a prática da tortura. Ele falou especificamente do waterboarding (simulação de afogamento, que foi banida nos EUA), mas já disse que pensa em outras “muito piores”. Ele também falou em cortes nos recursos da Educação, Saúde (cuja assistência foi amplada por Obama) e extinção da agência de proteção ambiental.

Por outro lado ele quer aumentar o gasto com o exército americano (que já é o exército com maior orçamento do mundo) e ampliar a presença nas proximidades da China. A deportação de onze milhões de estrangeiros é outra proposta sua que ficou “famosa”. Falou também que diminuiria a carga tributária de 35% para 15% - o que custaria 40 trilhões de dólares, ao longo de uma década.

Sanders
Vamos às propostas do socialista americano. A mais famosa talvez seja a que pretende aumentar os gastos com saúde, garantindo o acesso de mais pessoas aos serviços públicos. Ele também pretende implantar mudanças profundas no mercado financeiro, cujo lobby vem trabalhando pela desregulamentação. Sanders denuncia a diminuição dos direitos trabalhistas e do consumidor, e promete mantê-los e ampliá-los – incluindo aí a implantação de uma licença maternidade (sim, ela não existe nos Estados Unidos).

O candidato de perfil social-democrata quer fatiar os bancos que na crise de 2008 foram considerados grandes demais para quebrar. “Se são grandes demais para quebrar, são grandes demais para existir”, diz ele, que critica o auxílio financeiro recebido pelas instituições durante a crise. Criação de um imposto sobre especulação financeira e outro sobre as grandes fortunas são mais algumas das propostas do pré-candidato.

Essas são só algumas propostas. A ideia é despertar a curiosidade do leitor, para que busque mais informações sobre a disputa americana e sobre as propostas “comunistas” e “capitalistas”. Elas são suficientes para acabar com alguns mitos.

Fotos: Reuters