De acordo com o Programa Estadual de DST/Aids da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Sergipe tem 4.858 casos notificados de Aids desde 1981 até maio de 2016, com 1.262 óbitos. Desse total, 4.751 casos são adultos e 107 são crianças.
“Em Sergipe, a faixa etária mais atingida é de 30 a 39 anos sendo, na sua maioria, mulheres casadas. Novos comportamentos sexuais chamam atenção: 50% dos jovens não usam o preservativo nas relações sexuais ocasionais. Muitas pessoas ainda acham que “sexo arriscado é mais prazeroso”. Ficamos preocupados porque ainda existem movimentos que estimulam as práticas de risco, fazendo apologia ao não uso do preservativo durante o sexo anal ou vaginal”, explica o médico sanitarista Almir Santana, gerente do Programa Estadual de DST/Aids.
A presença da Aids não está apenas na capital e quebra barreiras de classe social, raça ou orientação sexual. Em Sergipe, os municípios com maior número de casos notificados são: Aracaju (2.011 casos), Nossa Senhora do Socorro (462), Itabaiana (233), Estância (188), São Cristóvão (167), Lagarto (149) e Propriá (143).
Luta e tabu
Nos últimos 29 anos, o trabalho do médico Almir Santana e de toda a equipe de DST/Aids da SES é de muita luta e determinação conscientizar a população sobre a importância da prevenção e fazer com que o paciente com Aids viva com dignidade.
“Já comprei ‘várias brigas’ para encarar a Aids em Sergipe. Lutei para que famílias aceitassem e ajudassem seus entes acometidos pela doença, para vencer a incompreensão e os obstáculos. A luta pela causa da AIDS sempre foi um grande desafio. Vencemos com os trabalhos educativos permanentes, com o envolvimento das organizações não governamentais, com o apoio de gestores estaduais e federais, estaduais e municipais, com a participação de voluntários e até da imprensa. O êxito é conjunto”, afirma Almir Santana.
Ainda segundo o médico, “a Aids provocou muitas mortes e várias transformações na área de saúde e na sociedade. Foi a primeira doença a mobilizar as próprias pessoas acometidas, que passaram a lutar pelos seus direitos aos exames, aos tratamentos específicos e, acima de tudo, ao respeito. A luta não foi só das pessoas que tinham o HIV. Surgiram profissionais da área da saúde e na sociedade em geral, que passaram a abraçar a causa”.
Avanços
Redução da mortalidade pela Aids, fácil acesso aos preservativos, acesso gratuito aos medicamentos antirretrovirais, testes rápidos em todos os municípios de Sergipe; campanhas de prevenção criativas e específicas, ações de solidariedade dirigida às crianças soropositivas e expostas, doação de cestas básicas para pessoas vivendo com HIV /Aids, apoio às organizações da sociedade civil, descentralização de recursos financeiros para 19 municípios de Sergipe, apoio e repasse de materiais educativos para os municípios, capacitação de profissionais de saúde e educação, são alguns dos inúmeros avanços da temática em Sergipe.
“Desde o ano de 1996, com o desenvolvimento dos antirretrovirais, a doença inicialmente considerada mortal passou a ser uma enfermidade crônica. Hoje, o tratamento já é considerado também uma forma de prevenção além da camisinha. A qualidade de vida de quem vive com HIV/AIDS melhorou e as atitudes de discriminação diminuíram consideravelmente. Mas a batalha não para e temos muito o que fazer ainda”, destaca Almir Santana.
Graças ao Programa Estadual DST/Aids da SES, os testes rápidos de HIV, antes vistos como um tabu, hoje chegam a todos os municípios de Sergipe através da Unidade Móvel “Fique Sabendo”, ganhando a total aceitação das pessoas. Trata-se de um veículo adaptado com sala de coleta, sala de aconselhamento, sala de resultados.
“A Unidade Móvel vai onde o povo está, principalmente o público vulnerável. Vamos em feiras livres, festas populares de massa, empresas, rodovias, até em locais de difícil acesso, onde a atenção básica ainda apresenta problemas. Conseguimos quebrar esse medo de fazer o teste”.
Experiência pioneira em Sergipe, a Unidade Móvel “Fique Sabendo” iniciou as atividades em 2012 e já esteve até fora do Estado, atuando na Copa do Mundo de 2014, em Salvador, com grande sucesso e reconhecimento da Unaids - órgão da ONU ligado à Aids. Recentemente, a Unidade também participou das atividades do revezamento da Tocha Olímpica em Sergipe.
Segundo a responsável técnica pelo Centro de Testagem do programa Joana Darc Pereira, em 2016 a Unidade Móvel realizou 1355 testes de HIV, com 5 reagentes. “Para atender a população em cada ação realizada pela unidade, ficam cerca de 10 profissionais divididos entre fazer a ficha dos pacientes, realizar os testes e aconselhar em caso de resultados positivos. Todos os casos positivos são encaminhados para as Unidades Básicas de Saúde”, conta.
“Além disso, temos sete Centros de Testagem e Aconselhamento (CTAs) em Sergipe. Em Aracaju, contamos com o Centro de Especialidades Médicas, que é referência no atendimento e na dispensação da medicação”, reforça Almir Santana.
O Ministério da Saúde lançou recentemente a Prevenção Combinada onde, além da camisinha, outras medidas ajudam a reduzir o risco de transmissão do HIV: o tratamento como prevenção (o uso de medicamentos antirretrovirais faz com que as pessoas vivendo com HIV/AIDS alcancem a chamada “carga viral indetectável”) e a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), com o uso medicação antirretroviral nas primeiras horas após qualquer situação em que exista o risco de transmissão do HIV.
“A SES dá assistência às pessoas com HIV/Aids no internadas no HUSE, assistência às gestantes soropositivas atendidas na Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, além de realizar ações de Vigilância Epidemiológica, ampliação da oferta dos testes rápidos através de mobilizações junto às populações mais vulneráveis”, complementa Almir Santana.
Ainda de acordo com Almir Santana, “uma das dificuldades ainda é a falta de um processo contínuo de prevenção dirigido aos segmentos mais vulneráveis como jovens gays, profissionais do sexo, homens que fazem sexo com homens. Ainda existem deficiências na cobertura e a qualidade do pré-natal, o que está contribuindo para o nascimento de crianças com o HIV. No pré-natal, por exemplo, o diagnóstico do HIV ainda está sendo feito tardiamente, apesar do teste rápido está sendo disponível na rede pública”.
ASN
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