Poder e Cotidiano em Sergipe
A terceira via tem chances em 2022? 13 de Setembro 9H:03
PODER | Por Max Augusto

A terceira via tem chances em 2022?

Falta mais de um ano para a eleição de 2022, e como gostam de repetir os versados na arte da política, tudo pode acontecer em uma disputa presidencial – inclusive nada. Mas a baixa adesão às manifestações de ontem contra o presidente Bolsonaro, apoiadas pelos presidenciáveis Ciro Gomes e João Dória, e por movimentos como o MBL, levantou uma questão tão velha quanto a própria democracia brasileira: um candidato de terceira via tem chances de sair com a faixa presidencial, após o próximo pleito?

Antes de oferecer alguma resposta, vamos analisar os dados históricos das últimas corridas pelo planalto. Ciro Gomes, por exemplo, já disputou três vezes a presidência da República, nunca ultrapassando os 12% de preferência do eleitorado – o mesmo percentual com que aparece em diversas pesquisas divulgadas recentemente.

Em 1998 Ciro Gomes foi candidato pelo PPS, obtendo pouco mais de 11% dos votos. Na eleição seguinte, em 2002, ainda pelo PPS, Ciro ultrapassou os 12% - mesmo índice obtido vinte anos depois, em 2018, quando ele também encerrou o pleito com pouco mais de 12% dos votos válidos. Nas três ele ganhou em apenas um estado – o seu Ceará.

Neste intervalo de duas décadas Ciro continua sendo o candidato dele mesmo, buscando o que políticos tradicionais chamam de “voto solto”, da população mais politizada e intelectualizada, que admira sua retórica técnica e seu conhecimento sobre o país. Neste período ele não construiu um partido, um bloco político, uma rede de apoiadores ou uma densidade relevante para as redes – terá agora um ano para fazer o que não realizou em vinte. E está tentando.

Marina Silva
O nome que se apresentou como terceira via e obteve melhor desempenho eleitoral nas corridas presidenciais foi a petista arrependida Marina Silva, que disputou em 2010 (19%) e 2014 (21%). Marina foi a mais votada em dois estados: o Acre, onde nasceu e fez carreira política, e Pernambuco, onde o PSB (partido pelo qual ela disputou os dois pleitos) tinha a força de Eduardo Campos.

Qualquer canidato que vislumbre desbancar Lula ou Bolsonaro para chegar ao segundo turno precisa ultrapassar o sarrafo dos 21% atingido pela Marina. Mas até o momento não há indícios de que isso possa acontecer – mesmo levando em conta que a um ano do pleito, em uma pesquisa, dados como a rejeição podem ser mais relevantes do que a intenção de voto.

Brizola e Garotinho
Depois de Marina, a melhor performance de um candidato que se apresentou fora da tal polarização (não era majoritariamente chamada assim nas eleições anteriores) foi Leonel Brizola, que em 1989, primeira eleição após a redemocratização, obteve mais de 16% dos votos e ganhou em três estados: Rio de Janeiro (do qual fora governador), Rio Grande do Sul (onde nasceu) e Santa Catarina. Lula e Collor fizeram a história disputa do segundo turno.

Em 1994 a medalha de bronze (que na verdade não existe na corrida presidencial) ficou com Eneas, que amargou magros 7%. Na eleição seguinte, 1998, deu Ciro em terceiro, atrás de FHC e Lula. 2002 foi ano de novidades, com o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, chegando aos 17% e tirando o terceiro lugar de Ciro, que continuou com os seus 12%. Lula enfrentou Serra no segundo turno.

Pausa para breve observação: As terceiras posições obtidas por Brizola e Garotinho, em anos diferentes, além da própria vitória de Bolsonaro em 2018, mostra que o estado do Rio de Janeiro continua tendo papel extremamente relevante para quem almeja vestir a faixa verde e amarela.

O ano era 2006 e a terceira via foi representada pela combativa senadora (e ex-filiada ao PT) Heloísa Gelena, que patinou nos 6%. Lula conseguiu sua reeleição, sobre Geraldo Alkmin, que pelo menos ganhou um dos melhores apelidos já vistos entre presidenciáveis: picolé de chuchu.

Ciro e a direita
Experiente e versado nas artes das guerras políticas, Ciro Gomes pode ter percebido a inviabilidade de uma terceira via na eleição do próximo ano. Isso pode ter sido determinante para que ele tente agora se apresentar como uma opção para o voto da direita. Suas insistentes e constantes críticas aos governos do PT (que ele mesmo integrou), e mais ainda, à pessoa de Lula, podem mostrar que ele tenta se desvincular da pecha de “esquerdista/comunista”, como gostam de classificar os radicais da direita.

A proximidade de Ciro a movimentos como o MBL, o diálogo constante com partidos como o DEM e a participação nos miados protestos do último domingo, 12, deixam claro essa tentativa. O Cearense, que já chegou a vaticinar a queda do presidente Bolsonaro, talvez aposte nisso mesmo, na implosão de um governo ruim, que gerou péssimos resultados na economia, aumentou desemprego, pobreza, cortou gastos na educação e não lidou bem com a pandemia, além de promover um clima de tensão e beligerância permanente, o que é criticado diuturnamente inclusive pelo tal do “mercado” e seus representantes com face.

Ruindo Bolsonaro, a dirieta ficaria órfã de um nome conhecido, com experiência, que seja viável e que possua chances eleitorais num embate com o ex-presidente Lula. Ou seja, Ciro Gomes aposta que o capitão caia da montaria e que o cavalo da direita passe selado em sua frente, já que a terceira via tente a continua e deve continuar onde sempre esteve: em terceiro lugar e fora do segundo turno.

Comentários

  • Seja o(a) primeiro(a) a comentar!

Deixe seu comentário

Imagem de Segurança
* CAMPOS OBRIGATÓRIOS
Whatsapp

Receba notícias no seu Whatsapp.

Cadastre seu número agora mesmo!

Houve um erro ao enviar. Tente novamente mais tarde.
Seu número foi cadastrado com sucesso! Em breve você receberá nossas notícias.