Temos acompanhado de perto o avanço da proliferação de fake news, principalmente, com o foco nas eleições presidenciais, com destaque para o uso do aplicativo WhatsApp. De acordo com o prof. da FGV, Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação, o Brasil tem legislações a respeito de crimes digitais, inclusive, entrará em vigor, em 2020, a legislação referente à proteção de dados, muito em linha com o que ocorreu na Europa.
"Mesmo sendo legitimada daqui a 2 anos, o Ministério Público já está muito atento fazendo investigações. Em termos de legislação digital, a brasileira é considerada uma das mais robustas. Ela está mais frágil no âmbito eleitoral, mas essa é uma questão mais voltada ao TSE, que precisa se digitalizar e entender tudo isso. A Justiça Eleitoral ainda se encontra defasada com relação ao avanço tecnológico", explica.
Estudos apontam que em torno de 96% das fake news eleitorais divulgadas no Brasil são compartilhadas via WhatsApp.
"As cabeças por trás das notícias falsas divulgam exatamente o que o povo quer ler. E isso cria o tão conhecido (e temido) efeito de massa de manobra. Estamos repetindo o mesmo que aconteceu nas eleições americanas, porém, com muito mais recursos tecnológicos", comenta.
Para ele, à medida em que o desenvolvimento tecnológico avança, fica mais difícil controlar o problema, dado o surgimento de robôs cada vez mais inteligentes, que chegam mais longe em menos tempo. Análises indicam que 40% dos perfis que seguem os presidenciáveis são falsos, o que indica que existe uma indústria de robôs por trás das campanhas.
Dados reforçam que de todo o tráfego da internet, mais de 65% é operacionalizado por meio de bots.
"Essa indústria que dissemina conteúdo falso não fica alocada no Brasil, mas em países como a Rússia. Isso é um grande problema para chegar até a fonte correta de quem espalha as fake news. Além disso, muita informação é movimentada na darknet", completa o especialista.
Para Igreja, a existência de uma legislação específica poderia regulamentar os disparos de informações nas redes sociais, bem como a compra de contatos.
"A tecnologia sempre anda na frente. E tudo isso que foi apontado recentemente sobre a ampla disseminação de notícias falsas, com destaque para a divulgação no WhatsApp, é algo inédito. Então, primeiramente, o fenômeno precisa ser entendido, apurado, para depois regular dentro das leis existentes e, se necessário, construir novas. Com certeza, não é uma praga do nosso tempo que ficará à revelia. Isso será regulamentado no curto ou médio prazo", conclui.
Sobre Arthur Igreja
Arthur Igreja é professor da FGV, especialista em tecnologia e inovação. Masters em International Business pela Georgetown University (EUA), MBA pela ESADE (Espanha) e Mestrado Executivo em Gestão Empresarial pela FGV. Certificações executivas em Harvard e Cambridge. Atuação profissional em mais de 25 países. Palestrante.
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