Poder e Cotidiano em Sergipe
Para o Brasil o estopim da Segunda Guerra foi em Sergipe 2 de Julho 11H:21
ARTIGOS

Para o Brasil o estopim da Segunda Guerra foi em Sergipe

*André Cabral (Aeronauta e Membro do GRUSEF)

Em agosto de 1942, a Segunda Guerra Mundial estava em seu quarto ano. O Brasil já havia cortado relações diplomáticas com a Alemanha e Itália, quinze navios brasileiros já tinham sido atacados pelo Eixo, ceifando a vida de mais de 180 pessoas e, ainda assim, o país ainda não tinha declarado guerra aos seus agressores.

Tudo começou a mudar em 15 de agosto daquele ano, quando o navio Aníbal Benévolo, saiu de Salvador com destino a Aracaju, transportando 71 tripulantes e 83 passageiros. No dia 16, vários aracajuanos aguardavam sua chegada no atracadouro próximo ao centro de Aracaju, capital que naquele ano tinha aproximadamente 64.800 habitantes. Na manhã do dia 17, o Capitão dos Portos de Sergipe foi ao Aeroclube do Estado, o único aeródromo da cidade na época, para informar que o navio não havia chegado, requisitando que um voo fosse feito à sua procura.

Walter Baptista, fundador e presidente do Aeroclube, e Lourival Bomfim, piloto e médico de formação, decolaram num Piper Cub J3 para cumprir esta missão. Ao retornar, relataram ter visto grandes manchas de óleo no mar, destroços, corpos e sobreviventes nas praias ao longo do litoral.

Alguns náufragos, por serem militares, entenderam desde o princípio que aquela tragédia se tratava de um ataque. Com isto em mente, eles enviaram mensagens de telégrafo para as forças armadas, dando início à primeira busca e salvamento em território brasileiro de um ataque alemão. Com o avanço das buscas e investigações, descobriu-se que três navios haviam sido afundados.

Morreram mais brasileiros no litoral ao sul de Sergipe em razão deste ataque do que combatentes nos sete meses que nossas tropas expedicionárias lutaram na Itália. Uma semana após esses ataques, o Brasil declarou estado de beligerância contra a Alemanha e Itália.

Centenas de sergipanos participaram da Segunda Guerra Mundial. Aproximadamente 284 soldados divididos entre nosso litoral e os que foram à Itália compondo a F.E.B. (Força Expedicionária Brasileira) maior parte no exército, 3 enfermeiras e 4 integrantes do 1º grupo de Caça da recém-criada Força Aérea Brasileira.

Durante a Segunda Guerra mundial, cinco pilotos brasileiros foram abatidos em combate. Outros quatro em treinamento e traslado. Um dos aeronautas combatentes foi o sergipano Aurélio Vieira Sampaio, que atualmente é homenageado pelo seu heroísmo na cidade Italiana que caiu com seu Republic P-47 Thunderbolt e no Museu da Gente Sergipana.

Participei da primeira homenagem feita ao Tenente Aurélio promovida pelo Grupo Sergipano de Estudos da F.E.B. (GRUSEF) levando à Itália a bandeira de Sergipe e outras obras, como um trabalho feito pelo artista plástico Tintiliano, o livro do jornalista e escritor Cleiber Vieira sobre o homenageado e um pequeno busto confeccionado pelo artista Elias Santos. Fiz a entrega na cidade italiana de Rodano, onde uma bela cerimônia cívico-militar é realizada em homenagem ao aviador sergipano.

Em Aracaju, no Museu da Gente Sergipana, o GRUSEF fez o descerramento de um busto e um diorama com uma maquete que representa a cena da última missão do Tenente Aurélio. Ele bombardeou um trem que levava suprimento para os alemães e em seguida, infelizmente, foi atingido por uma FLAK, bateria antiaérea alemã.

Outros sergipanos já foram reconhecidos internacionalmente por sua bravura na Segunda Guerra Mundial, a exemplo de Zacarias Izidoro. Natural de Maruim, ele ficou conhecido como o “Louco de Pisa”, por ter sido diversas vezes voluntário para missões de alto risco como percorrer campos minados. Na batalha de Montese ele foi ferido e evacuado para os Estados Unidos, onde passou por 19 cirurgias. Pelos seus feitos, ele recebeu a Silver Star, uma das maiores condecorações dadas a um estrangeiro pelo governo Norte-Americano.

O GRUSEF pensa em ir além das merecidas homenagens, de modo a poder recontar o começo, o meio e o fim da participação de Sergipe no maior conflito da humanidade. Essas histórias já fazem parte de diversos grupos de pesquisa, que incluem importantes trabalhos de acadêmicos sergipanos, que podem e merecem ser levados à comunidade sergipana através de um memorial.

Este, ajudaria a difundir o conhecimento sobre esta importante temática através de recursos de tecnologia e elementos históricos. A ideia é ajudar as pessoas a conhecerem esses importantes momentos chaves de nossa história de forma lúdica, fazendo com que os visitantes interajam com a tensão, o medo e a superação que marcaram o conflito.

Esse projeto já foi apresentado em algumas ocasiões para autoridades políticas, acadêmicas, militares e civis que compreendem o seu valor histórico, turístico, acadêmico e cívico. Em recente enquete online feita pelo GRUSEF, descobrimos que mais de 90% dos participantes desconhecem pelo menos um fato relevante acerca da participação de Sergipe na Segunda Guerra Mundial. Esta é uma realidade que precisamos mudar.

Para materializarmos projetos de ação cultural, histórica e cívica como o Memorial de Sergipe na Segunda Guerra Mundial, contamos com o apoio dos leitores deste artigo.

Agradecimentos
Dr William Soares (presidente do GRUSEF), Dr Lucio Prado, Francisco Leão (autor do diorama) Cleiber Vieira (autor do livro sobre o Aurélio), Ezio Déda (Diretor do Instituto Banese), Luiz Eduardo Costa (jornalista), Roberta Rosa, Eduardo Cardenhas, Sergio Santana, Ricardo Pinho, Elias Santos, Marcos Renault (diretor do Museu da Força Expedicionária), João Barone (baterista e autor de livros sobre a F.E.B.), Padre José Lima.

Instagram do grupo: https://www.instagram.com/grusef1942/

 

Comentários

  • irio silveira 13/08/2021 às 12:56

    Bom conteúdo.

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