Nesta entrevista ao JORNAL DA CIDADE / BLOG DO MAX o novo secretário de Direitos Humanos de Sergipe, Antônio Bitencourt, afirmou que a efetivação da Comissão Estadual da Verdade será uma prioridade em sua gestão. Também presidente do Diretório Municipal do PC do B em Aracaju, Bittencourt garantiu que o partido está firme e coeso na defesa do governo de Jackson Barreto (PMDB). Para ele, Jackson é a lideranças política que historicamente possui mais diálogo com os comunistas. Ele também falou que considera Rogério Carvalho uma liderança forte, mas as pesquisas mostram uma paridade com Edvaldo Nogueira, pré-candidato do partido ao Senado. Leia a seguir.
JORNAL DA CIDADE - Sua nomeação para a Secretaria dos Direitos Humanos sela uma parceria do PCdoB com o PMDB?
Antônio Bittencourt - A nomeação de um quadro do PC do B reafirma e consolida uma velha parceria firmada ainda nos tempos da clandestinidade e que nunca deixou de existir. O governador Jackson Barreto é, na história do PC do B em Sergipe, a liderança política com quem mais dialogamos e sempre em um alto nível de maturidade política e ideológica. A minha presença no secretariado resulta de um processo de discussão com o governo JB que vem sendo amadurecido desde janeiro desse ano.
JC - É verdade que Edvaldo Nogueira e outros membros do partido estão insatisfeitos com o governador Jackson Barreto, mesmo após a sua nomeação? Qual o motivo desta insatisfação?
AB - O partido está firme e coeso na defesa do governo de JB e na necessidade de darmos continuidade a um processo de mudanças iniciado em Sergipe pelo governador Marcelo Déda. Não existe qualquer rusga entre nós. Naturalmente somos um partido que acredita no debate, na discussão profunda das ideias. E a definitiva entrada na administração também foi submetida a esse processo. Na reunião, realizada na quarta-feira, dia 9, toda a comissão dirigentes do partido estava presente, quando reafirmamos o nosso apoio.
JC - O PCdoB define quando seu posicionamento para as eleições de 2014? Já há uma tendência?
AB - Seguiremos com JB, contribuindo para o avanço da conquistas e ampliando cada vez mais o sentimento de que Sergipe não pode retroceder, nem se submeter a um sepulcro caiado que se auto-denomina de “o novo" e imprime prática de condução políticas velhas e comprometida apenas com interesse do seu grupo. Reafirmamos o nosso compromisso com a candidatura de Edvaldo Nogueira para o Senado e deveremos lançar nomes como o do Padre Inaldo, de Socorro, e Adinaldo, de Indiaroba, para deputado Estadual.
JC - O PC do B faz alguma restrição a entrada de algum partido no bloco que apoia o governador Jackson Barreto? Alguma restrição ao DEM?
AB - Quem decidirá sobre a admissão ou não do DEM é o governador Jackson Barreto, é dele a decisão final. Ele tem legitimidade, autoridade e discernimento político para tal. Nós, do PC do B, estaremos internamente trabalhando para convencê-lo de que se trata de uma aliança desinteressante e desnecessária. A permanência de João Alves na prefeitura já revelou de modo consistente que ele está desgastado e em descenso perante a opinião pública. Ou alguém, com mais de dois neurônios, acredita na desculpa de que foi por amor a Aracaju?
JC - O PC do B descarta alianças com PSC, PSDB, PPS E PSB? O partido tem conversado com algumas destas outras siglas?
AB - Temos conversado bastante com o PSB. Edvaldo Nogueira e Halisson Souza, presidente estadual do partido, estão atuando nesse sentido. Entendemos que o lugar do senador Valadares e do deputado Valadares Filho é entre nós, eles e seu grupo deram contribuições importantes, principalmente nas atuações dos ex-secretários, Elber Batalha, Mauricio Pimentel e Belivado Chagas. O PSC, PSDB e PPS são partidos importantes, devem ser respeitados, mas ideológica e programaticamente divergente, não temos estabelecido qualquer dialogo de natureza eleitoral.
JC - Edvaldo Nogueira ainda mantém sua candidatura ao Senado? Ele possui densidade eleitoral para entrar na disputa?
AB - Edvaldo Nogueira é nosso candidato a senador, estamos submetendo o seu nome para a apreciação da base do governador JB. No processo de dialogo da nossa direção com JB essa pauta foi reconhecida como legitima e a ser considerada na disputa interna do grupo.
JC - O PC do B exita em anunciar apoio a candidatura de Rogério Carvalho ao senado? Por que? Há um acirramento hoje do PC do B com o PT, ou mais especificamente com Rogério Carvalho?
AB - Não há sentido em anunciar apoio a essa candidatura se nos temos o nosso candidato. Rogério Carvalho é um valoroso quadro da política sergipana, atuante e destacado parlamentar, presidente do maior partido de Sergipe, com força política em todo o Estado, mas o que aponta a frieza dos números das pesquisas é que ele e Edvaldo Nogueira estão tecnicamente empatados, no que pese o ex-prefeito estar há um ano e meio sem mandato ou ocupando qualquer cargo de projeção política.
JC - O que o senhor achou da iniciativa do governador Jackson Barreto, em pedir investigações sobre as torturas nos porões do 28 BC? Torturadores que agiram em Sergipe ainda estão vivos e por aqui?
AB - Achei um gesto de coragem e de reafirmação do seu comprometimento com a nossa história e democracia. O 28 BC foi, nas décadas de 1960 e 1970, um dantesco palco de torturas. Meu pai Antonio Bittencourt esteve lá, nesses períodos, sendo preso e torturado. Ele e outros tantos nomes da vida política sergipana possuem o mais legítimo direito de ter acesso a documentos que possibilitem a reabilitação da história e da memória de um dos momentos mais indignos da realidade brasileira. JB faz parte dessa história de luta contra a ditadura e seu gesto é grandioso.
JC - E a comissão da verdade estadual, será instalada em Sergipe?
AB - Coloco como prioridade a efetivação da Comissão da Verdade. Precisamos consagrar o direito a verdade como elemento fundamental na consolidação da nossa democracia. Conhecer o que ocorreu nos becos escuros da ditadura, expor os excessos praticados pelo Estado autoritário, revelar seus métodos e seus agentes é saldar uma dívida que o Estado brasileiro tem com o seu povo e sua história.
JC - Quais são hoje as violações mais comuns aos direitos humanos em Sergipe?
AB - Racismo, intolerância religiosa, homofobia, restrição ao acesso de pessoa com deficiência, são algumas das violações mais constantes, não apenas em Sergipe, mas em todo o Brasil.
JC - Como o senhor encara o discurso cada vez mais forte de que direitos humanos é para defender bandido?
AB - Os Direitos Humanos são a consagração do processo civilizador e devem atuar para que todo e qualquer cidadão tenha plena e absoluta garantia de acesso as condições para de efetivação dos seus mais caros direitos e deveres. Essa equivocada ideia de defesa de bandido foi construída e difundida no período de autoritarismo militar, que para desqualificar os discursos contrários aos assassinatos políticos e a tortura, diziam que estávamos defendendo bandidos.
JC - Quais são seus planos para a secretaria.
AB - Pretendo dar continuidade a uma serie de ações já iniciadas pelo amigo e ex-secretário Eduardo Oliva. Naturalmente, quero ir além do que já foi feito, imprimindo a marca de que devemos, sobretudo, estabelecer um diálogo cada vez mais intenso e franco com os diversos seguimentos da nossa sociedade, principalmente os mais vulneráveis ou submetidos a qualquer coerção ou constrangimento no exercício da sua liberdade e cidadania. Podem cobrar, secretário de Estado é um servidor público.
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