Poder e Cotidiano em Sergipe
ALMEIDA LIMA: “Não disputarei nenhum mandato eletivo” 9 de Dezembro 18H:10

ALMEIDA LIMA: “Não disputarei nenhum mandato eletivo”

“Considero-me fora do processo eleitoral como candidato a qualquer cargo”. Foi assim, de forma direta, que o deputado federal Almeida Lima (PMDB) negou a possibilidade de candidatar-se a prefeito de Aracaju, em 2016. Almeida ainda avaliou que Aracaju ganhará muito se o futuro prefeito tiver um alinhamento político com o governador Jackson Barreto, e disse que a capital não apenas deixou de ganhar, mas perdeu - retrocedendo, com a mudança política. Ele ainda falou sobre sua atuação legislativa e destacou a necessidade de uma reforma que modifique o que ele classificou como “um modelo medíocre de organização política do estado”. Leia a seguir a entrevista concedida ao BLOG DO MAX / JORNAL DA CIDADE.

BLOG DO MAX - O senhor está terminando mais um mandato. Qual a sua avaliação deste seu período na Câmara Federal, qual foi o saldo? Quais foram as suas ações mais importantes neste período?
ALMEIDA LIMA -
Já se disse que o parlamentar no Congresso Nacional, ou em qualquer de suas casas, Senado ou Câmara, trabalha muito e produz muito pouco. Isso é verdadeiro, mas necessita de algumas observações. Inúmeros parlamentares cumprem, tão somente, o trabalho cansativo de viajar semanalmente a Brasília, comparecer às sessões das comissão e do plenário, registrar presença para não ter o salário descontado no final do mês, ouvir discursos de todos os níveis, às vezes varando a madrugada até cinco horas da manhã, e votar da forma como o líder do partido indica. Ou seja, inúmeros representam apenas um número a compor o coletivo de 513 deputados, que é um número exorbitante, com o qual nunca concordei e, por isso mesmo, propus a sua diminuição em proposta de emenda à constituição. Que fique claro que aqui não vai nenhuma crítica a esse perfil de deputado, pois mesmo que ele seja brilhante, competente e trabalhador, as circunstâncias constitucionais, legais e regimentais impedem que o parlamentar exerça o mandato de forma produtiva. Esse é um modelo medíocre de organização política do estado e que a elite dirigente insiste em não querer mudar. Para se ter uma ideia, o plenário não comporta nem as 513 cadeiras para que todos os parlamentares trabalhem sentados; considerando 5 seções semanais, de segunda a sexta, ou 200 sessões por ano, sem a inclusão dos sábados, domingos e feriados, e que o coletivo é de 513 deputados, conclui-se que um deputado pode passar mais de um ano sem ser sorteado para fazer um discurso de vinte minutos no grande expediente. Vejam a contradição: parlamento que não prioriza o debate. Antes de responder especificamente à pergunta é bom não esquecer que o parlamento é um poder de expressão e de vontade coletiva. Nada é feito apenas pela vontade pessoal, logo, a produção parlamentar é coletiva, pois enquanto uns são chamados a relatar um projeto, todos são convocados para relatar. Nesse mandato de deputado eu fui convocado para presidir a Comissão da Reforma Política. Uma comissão de suprema importância para o país, composta por 41 deputados. Trabalhei como um gigante por quase dois anos. Além do trabalho diário em Brasília, inúmeros finais de semanas eu tive que viajar para os estados. Foram 16 estados, nos quais ouvimos a sociedade local e, no final, qual foi o resultado? – Nenhum, pois as bancadas de todos os partidos não desejaram deliberar sobre nenhuma matéria, e o país continua sem uma legislação eleitoral adequada. Portanto, trabalha-se muito e se produz muito pouco. No entanto, o saldo das minhas ações para o Estado de Sergipe foi muito positivo, pois consegui ser o parlamentar sergipano que mais recursos trouxe para Sergipe, a partir de Aracaju e se ampliando por todo o interior do estado.


JC - O clima anda quente em Brasília. Dilma vai conseguir manter sua base no Congresso Nacional? A que custo?
BM -
Apesar de defeituosas e inapropriadas, as instituições estão funcionando e isso é importante. Já vivemos outros momentos iguais a esses e conseguimos superar. O que espero é que esse momento sirva de aprendizado para a evolução das instituições políticas do país. Quanto à presidente, ela foi reeleita e sua vitória expressa a vontade da maioria do povo brasileiro. Por isso, ela está legitimada a construir a necessária base parlamentar para governar e o custo poderá ir da conjugação de projetos a espaço de poder.


JC - Mesmo estando deputado federal e já tendo sido senador e prefeito de Aracaju, o senhor não conseguiu se eleger deputado estadual. A que o senhor credita isso?
BM -
Credito a uma série de circunstâncias que, para descrevê-las, exigiria um tratado. Numa síntese, o que posso dizer é que faltaram votos. 


JC - Como funciona uma eleição para deputado estadual? O que faz nomes pouco expressivos ou com pequeno trabalho legislativo alcançarem grandes votações?
BM -
Confesso não saber como funciona uma eleição para deputado estadual e, com certeza, não sou a pessoa indicada a responder a essa pergunta. Sei dizer o que não funciona, o que não dá certo fazer para ajudar a se eleger. Veja: como parlamentar estive no centro do poder ao presidir a Comissão do Orçamento da União e deixarei Brasília com a mesma dignidade. Não me omiti diante da corrupção, ao contrário, a denunciei. Ajudei a Sergipe como nenhum outro. Aracaju tem a minha marca de forma expressiva: hospitais beneficiados, inúmeras obras a exemplo da cobertura e urbanização do canal da avenida da Unit, mais de sessenta municípios com obras liberadas por mim... conhecimento popular. Nada disso serve. Quanto aos nomes poucos expressivos ou de pequeno trabalho legislativo como você se refere, devem ter outros encantos, outros atributos que as lideranças e o eleitor gostam.
 

JC - Qual será o destino político de Almeida Lima? O senhor pode ocupar uma Secretaria no governo de Jackson? Houve conversas neste sentido?
BM -
Há quatro anos, exatamente no dia em que me elegi deputado federal, eu comuniquei à família e a amigos próximos que estavam comigo naquele momento, que aquela era a última eleição para mandato em Brasília. E assim foi. Preferi retornar. Agora eu continuarei participando da política, mas não disputarei nenhum mandato eletivo. Há outras maneiras de continuar na política e eu terei esse comportamento. Quanto às outras perguntas, permita-me não tecer nenhum comentário, pois qualquer resposta que vier dar é constrangedor para mim e para o governador e eu não me sentiria bem.
 

JC - O senhor defende que o PMDB lance uma candidatura própria a prefeito de Aracaju, em 2016? O senhor poderia ser esse nome?
BM -
O processo eleitoral está diretamente vinculado e influenciado por fatores circunstanciais, e as circunstâncias políticas presentes em 2016 é que vão determinar. No entanto, eu acho que Aracaju ganhará muito se o futuro prefeito tiver um alinhamento político com o governador Jackson Barreto. Está claro que com a mudança, além de Aracaju ter perdido, ela deixou de ganhar muito. Aracaju retrocedeu. Quanto a mim como candidato, nem como soldado obediente que sou. Considero-me fora do processo eleitoral como candidato a qualquer cargo.


JC - Qual será o maior desafio do governador Jackson Barreto?
BM -
Vejo que há muitos desafios a serem vencidos, a exemplo do equilíbrio das finanças públicas, adequação da máquina administrativa, atendimento a demandas como Saúde, Segurança, Educação de qualidade, e um projeto de desenvolvimento econômico que possibilite qualidade de vida. Sei que o governador tem consciência de todos eles e, por certo, irá enfrentá-los com sucesso.
 

JC -  Foi especulado que o senhor poderia assumir o comando da Secretaria Estadual de Saúde. Houve conversas neste sentido? Se fosse convidado, o senhor aceitaria?
BM -
Como você mesmo diz, trata-se de especulação, nada além de especulação, e assim deve ser vista, pois elas são comuns nesses períodos que antecedem à definição de secretários. Confesso que tenho me comportado com indiferença a todas elas. Quanto às perguntas complementares, darei a mesma resposta: nenhum comentário, pois qualquer resposta que vier dar é constrangedor para mim e para o governador, e eu não me sentiria bem.
 

JC -  O senhor acha que o PMDB aceitaria apoiar um candidato do PT ou PSB para a Prefeitura de Aracaju, em 2016?
BM -
Em política tudo é possível e essa é uma possibilidade natural, estranho para mim seria o apoio a um candidato do PSC, DEM ou PSDB.


JC - Qual o espaço que o PMDB deve ocupar neste governo de Jackson Barreto?
BM -
O sistema eleitoral brasileiro coloca o partido como uma referência, não como titular de direito ou de mandato, mesmo diante do arremedo de normas que estabelecem as relações entre os partidos e seus filiados. Todo o poder se personifica na pessoa do eleito, e a ele compete exercê-lo. Essa é uma questão muito subjetiva e pessoal do governador.

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