Eloisa Galdino - Comunicóloga e dirigente estadual do Partido dos Trabalhadores em Sergipe
Belivaldo, muito me intrigou acompanhar suas últimas entrevistas, a ponto de não conseguir me distanciar de um certa indignação com as suas colocações. Sua postura me fez viajar no tempo até a tarde do dia 21 de julho de 2018, quando nos reunimos em seu apartamento para tratarmos da participação de Eliane Aquino como sua companheira de chapa no pleito eleitoral daquele ano. Ali, encontramos um Belivaldo envolto em simpatia, cordialidade e cheio de afagos. Na ocasião, você nos falou como se sentia tranquilo com a chegada dela à chapa, e sobre todas as pesquisas mostrarem como tê-la como candidata à vice-governadora seria essencial para sua campanha a governador.
Passados quase quatro anos de mandato, ouvir suas últimas afirmações sobre Eliane Aquino decepciona, é fato, e mostra a dureza do ambiente político, sobretudo para nós, mulheres. Seu tom ríspido e pouco respeitoso evidencia a face da ingratidão, e aparece pincelada com toques claros de machismo.
Para além de tudo isso, nós, da escola de um líder político da estatura de Marcelo Déda, estranhamos muito atitudes que nos remetem ao tempo do coronelismo, sobretudo a prática pouco republicana de perseguir e de destratar publicamente as pessoas.
Ademais, quando vemos esse tratamento ser dispensado a uma das principais guardiãs do legado de Déda, hoje vice-governadora eleita pelo povo, potencializa-se a dimensão da ingratidão. Para atingir Eliane, sua companheira de chapa e de governo, e o nosso partido, o PT, você se apequena, como se não tivesse noção da cadeira que ocupa.
Fui convidada a participar desse governo por Eliane Aquino, eleita na chapa ao seu lado. O mandato dela vai até o último dia de dezembro de 2022, o que, em condições republicanas, garantiria a ela o direito de ter seu gabinete e sua equipe de trabalho até aquela data. Eu até cogitei sair do governo no primeiro semestre, mas em comum acordo com a vice-governadora, decidi ficar ao seu lado nas trincheiras que ela se dispusesse a lutar.
E eis que você, em entrevistas de rádio, resolve anunciar que irá me exonerar do cargo que ocupo porque, durante as minhas férias garantidas em lei, atuei politicamente na campanha de Eliane. O que seria isso senão perseguição política e desrespeito à figura da vice-governadora? É a confirmação de uma velha máxima, segundo a qual o poder revela faces antes escondidas.
Quanto ao cargo, entrego-o agora, publicamente. Se a exposição buscava, de alguma maneira, me constranger, não logrou êxito. Eu nunca estive no governo por sua causa, nem nunca escondi minha relação partidária, muito pelo contrário. Assim como a vice-governadora, nunca deixei de ser clara quanto ao lado que estou.
Em suas passagens radiofônicas, muito se destacou o valor do cargo, como se fosse algo espetacular. Que tolice. Já ocupei outros cargos mais proeminentes e possuo formação, experiência e conhecimento para ocupar esse e outros cargos. No caso em tela, muito embora eu tenha ocupado uma assessoria política que você trata como de “luxo”, entreguei muito mais do que isso, até porque o foco da vice-governadora sempre foi a população. Basta atentar que atuei como executiva na formulação de projetos e programas que viraram leis: ICMS Social, Cartão Mais Inclusão e Sergipe pela Infância. Este último teve a minha participação desde a sua gestação, inspirado no Mais Infância Ceará, programa de um governo do Partido dos Trabalhadores.
Por fim e não menos importante: o mundo atual execra e não tolera machismo. Ao buscar me atingir, você usa a adjetivação “louca” para descrever minha atividade na campanha eleitoral. Isso me fez lembrar de 2006, quando tive a honra de ser uma das coordenadoras da campanha de Marcelo Déda ao governo de Sergipe. Ali você era o vice, sempre quieto, educado, cordato. Com certeza você não achava que eu fazia campanha como “louca”, não é? Ali, como agora, eu estava sendo a profissional de sempre, com envolvimento e dedicação ao que acredito. E isso me orgulha, não me descredencia nem me diminui, muito pelo contrário.
Concluo mais um ciclo na vida pública agradecendo a Eliane Aquino pela oportunidade que me deu de voltar a contribuir com Sergipe.
Saudações petistas.
Aracaju, 29 de setembro de 2022.
Eloisa Galdino
Comunicóloga e dirigente estadual do Partido dos Trabalhadores em Sergipe
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