Era uma vez um aspirante a servidor público, que sonhava com um emprego estável, um salário digno e quem sabe até uma festinha de fim de ano bancada pelos cofres municipais. O plano era simples: estudar, acertar as questões e, claro, comemorar o primeiro lugar no concurso municipal. Tudo corria bem até que as engrenagens da burocracia resolveram mostrar seus dentes afiados.
No dia da divulgação do gabarito preliminar, o aspirante brilhou. Primeira colocação! Era quase como ganhar na loteria, mas com menos azar envolvidos. Porém, a alegria durou pouco. Ao conferir a lista de resultados preliminares, lá estava ele: eliminado. Nada de pontos, apenas um desolador "zero" acompanhado de uma eliminação que piscava como um sinal de "game over".
Sem entender, vasculhou o edital, aquele calhamaço de letras miúdas que parece projetado para desestimular qualquer leitura. Descobriu que tinha até as 22h do dia 25 de dezembro para entrar com um recurso. Isso mesmo: a última chance de salvar seus sonhos dependia de enviar um documento na noite de Natal, entre o peru e o pavê.
Com as esperanças ressecadas pela ironia do destino, ele protocolou o recurso às 20h. Afinal, quem precisa de ceia quando há um futuro em jogo? A resposta da banca, no entanto, veio rápida e cortante como uma faca de panetone: seu cartão resposta estava sem assinatura. Claúsula do edital, ponto final.
Inconformado, buscou ajuda jurídica. Advogados ponderaram: “Prova? Não há. Sem cartão assinado, a banca tem a palavra final.” Para piorar, o tal cartão resposta — a única prova concreta — estava guardado a sete chaves. Nada de consulta online. Apenas uma decisão judicial poderia abrir o cofre da transparência.
E foi ali que ele se perguntou: “Por que, em pleno século XXI, uma banca examinadora não adota biometria nos cartões resposta? Será que a tecnologia parou no tempo, junto com as máquinas de escrever e os telégrafos?”
A resposta não veio. Nem da banca, nem da modernidade. Tudo que restou foi uma história tragicômica, digna de um roteiro de seriado, onde o herói cai não por falta de esforço ou conhecimento, mas pela mágica inexplicável da burocracia à brasileira.
E assim, com um futuro trancado em um cartão inacessível, ele se tornou mais um personagem em um conto que se repete. Porque, no Brasil, até para sonhar é preciso assinar. Em três vias.
Escrito por Matheus Barros
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