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Covid-19: Bairros mais atingidos em Aracaju estão entre os que possuem mais condomínios verticais 18 de Maio 13H:03
COTIDIANO | Por Max Augusto

Covid-19: Bairros mais atingidos em Aracaju estão entre os que possuem mais condomínios verticais

Professores da UFS destacam necessidade de isolamento dos espaços de lazer coletivos em condomínios fechados

Em Aracaju, entre os bairros mais atingidos pela Covid-19, estão aqueles onde foram erguidos mais condomínios verticais.

A constatação foi apontada em um artigo redigido por dois professores da Universidade Federal de Sergipe (UFS): Sarah Lúcia Alves França, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, e Ricardo Queiroz Gurgel, do Departamento de Medicina.

Eles registram que em 2016, estudos realizados pela autora apontaram os dez bairros que mais tiveram unidades habitacionais licenciadas em empreendimentos imobiliários, após a promulgação do Plano Diretor, em 2000: Jabotiana, Zona de Expansão, Farolândia, Luzia, Jardins, Santa Maria, Porto Dantas, 17 de Março, Atalaia e Coroa do Meio.

Naquele momento ela destacou que Jardins, Atalaia, Coroa do Meio e Luzia são marcados pela implantação de condomínios verticais direcionados às classes média alta e alta, enquanto Jabotiana, Zona de Expansão e Farolândia foram os que mais receberam empreendimentos subsidiados por programas federais, como o de Arrendamento Residencial e o Minha Casa Minha Vida, além dos vários condomínios construídos pelo mercado imobiliário.

Já Santa Maria, Porto Dantas e 17 de Março, que abrigam famílias de renda mais baixa, receberam intervenções da Prefeitura Municipal e do Governo do Estado, com o objetivo de reduzir o déficit habitacional e amenizar carências urbanísticas.

Verticalização
“Estabelecendo relação entre os bairros com maior número de contaminados com computados até o dia 12/05, e os bairros que mais cresceram nos últimos anos apontados anteriormente, verifica-se uma concentração de casos de COVID-19 naqueles mais verticalizados, com condomínios residenciais fechados como Jardins, Farolândia, Atalaia, Luzia, Jabotiana, Grageru, Inácio Barbosa e Treze de Julho”, registra o artigo.

Os autores ainda pontuaram que foi nesses bairros onde a chegada de pessoas vindas de outros locais potencialmente mais contaminados, que os primeiros casos se disseminaram para atingir a população/habitações de menor poder aquisitivo.

Elevadores
Os autores destacam também o estudo realizado por pesquisadores da Aalto University, na Finlândia, publicado em 6 de abril, que indica a relação do COVID-19 e os elevadores, enfatizando a importância de evitar locais públicos e fechados na presença de outras pessoas, em função das partículas com o vírus permanecerem no ar por mais tempo que o esperado.

“Assim, essas informações reafirmam, para Aracaju, a necessidade de adoção de medidas de isolamento das áreas de convívio social, ou seja, espaços de lazer coletivos em condomínios fechados e loteamentos residenciais, em especial, nos bairros mais verticalizados, com maiores vetores de contágio do vírus”, concluem os professores.

 

Confira o artigo completo:

Onde estão os contaminados pelo COVID-19? A distribuição sócioespacial do coronavírus em Aracaju-SE

Profa. Dra. Sarah Lúcia Alves França
Arquiteta e Urbanista, Professora Adjunta do Departamento de Arquitetura e
Urbanismo, Líder do Centro de Estudos de Planejamento e Práticas Urbanas e
Regionais – CEPUR, Universidade Federal de Sergipe


Prof. Dr. Ricardo Queiroz Gurgel
Médico Pedriatra, Professor Titular de Pediatria – Departamento de Medicina e
Coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, Universidade
Federal de Sergipe


As cidades são, historicamente, principais epicentros de epidemias. O novo
coronavírus se espalhou pelo mundo sem distinção de país, cidade, bairro, idade, raça
ou classe social e já está provado que a alta concentração de pessoas e atividades
contribuem para ampliar os riscos de contaminação. Prevê-se que o impacto seja maior
para as populações mais vulneráveis, que vivem em bairros com infraestrutura
insuficiente, em assentamentos precários, favelas e moradores de rua. Por outro lado,
verifica-se um impacto inicial em bairros altamente adensados de classes média e alta,
em função da origem importada do vírus Sars-CoV-2, vindo da Itália, no caso do Brasil.


As condições urbanísticas e ambientais em que essas populações vivem,
interferem no cenário da pandemia, como saneamento básico, condições das moradias e
acesso à informação sobre a doença. Se uma das formas de prevenção é a higienização
frequente e correta das mãos e objetos, a gestão pública deve se atentar para àquelas
famílias que não tem acesso à rede de abastecimento de água. Segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, em Aracaju, 2,09% dos
domícílios, o equivalente a cerca de 4 mil, contavam com formas precárias desse
serviço, como através de poço ou nascente, água da chuva armazenada e rio. Isso ocorre
nos bairros Coroa do Meio, Santa Maria e Zona de Expansão, sendo assim, mais
vulneráveis por concentrarem as maiores taxas desse “serviço” nos domicílios.

Na capital sergipana, em março de 2020, cerca de 73 mil famílias estavam
inseridas no Cadastro Único (base de dados das famílias de baixa renda), vivendo sob
condições de precariedade na zona norte, em bairros como Porto Dantas, Santos
Dumont, Cidade Nova, Lamarão, Soledade e Olaria, e ao sul, no Santa Maria e 17 de
Março, segundo dados do Observatório Social de Aracaju, da Prefeitura Municipal. Isso
reforça, no enfretamento do COVID-19, a necessidade de fortalecimento das medidas
de isolamento social e de higiene, em detrimento da infraestrutura insuficiente, de
moradias com duas ou mais famílias no sistema coabitação, ou em vilas, associado às
programas de auxílio de renda.


O primeiro caso de COVID-19 em Aracaju foi registrado em 14/03, originário
da Espanha, e em 16/03, o Governo do Estado e a Prefeitura decretaram medidas para
enfrentamento da emergência de saúde pública, dentre elas o isolamento social e
suspensão de atividades que resultavam em aglomerações. Em 25/03, foi comunicado o

primeiro caso de transmissão comunitária, enquanto já haviam 13 ocorrências
confirmadas. As duas primeiras vítimas foram confirmadas em 02/04, agravando ainda
mais o cenário na capital, apesar de estarem sendo adotadas medidas necessárias.
Em 29/04, a gestão municipal anunciou parceria com a Universidade Federal de
Sergipe, para realizar testes e mapear a incidência dos casos de COVID-19. No dia
anterior (início dos registros por bairro), computou-se 189 contaminados, com maior
intensidade no Jabotiana (13 casos), Santa Maria e Jardins (11 casos), Atalaia, Luzia,
Ponto Novo, Santo Antônio e Zona de Expansão (10 casos), conforme divulgado no
boletim da Secretaria Municipal de Saúde.


No dia 12/05, 60 dias após do anúncio do primeiro caso, foram confirmados
1.413 casos de COVID-19, distribuíos pelos seguintes bairros: Farolândia (121 casos),
Jabotiana (111 casos), Luzia (91 casos), Jardins (76 casos); Zona de Expansão e Atalaia
(63 casos); São Conrado (59 casos); Grageru (56 casos); Inácio Barbosa (48 casos);
Ponto Novo (47 casos), Treze de Julho, Coroa do Meio e Santa Maria (44 casos). A
Prefeitura Municipal alerta que os números de casos por bairros podem sofrer variações
após a confirmação dos endereços do paciente.

Em 2016, em estudos realizados por esta autora, foram apontados os vetores de
adensamento e expansão urbana em Aracaju sob a perspectiva da produção
habitacional, em que revelou os dez bairros que mais tiveram unidades habitacionais
licenciadas em empreendimentos imobiliários, após a promulgação do Plano Diretor,
em 2000 (Lei que define critérios para o desenvolvimento urbano municipal). São eles:
Jabotiana, Zona de Expansão, Farolândia, Luzia, Jardins, Santa Maria, Porto Dantas, 17
de Março, Atalaia e Coroa do Meio. Jardins, Atalaia, Coroa do Meio e Luzia são
marcados pela implantação de condomínios verticais direcionados às classes média alta
e alta. Jabotiana, Zona de Expansão e Farolândia foram os que mais receberam
empreendimentos subsidiados por programas federais, como o de Arrendamento
Residencial e o Minha Casa Minha Vida, além dos vários condomínios construídos pelo
mercado imobiliário. Já Santa Maria, Porto Dantas e 17 de Março, que abrigam famílias
de renda mais baixa, receberam intervenções da Prefeitura Municipal e do Governo do
Estado, com o objetivo de reduzir o déficit habitacional e amenizar carências
urbanísticas.

Estabelecendo relação entre os bairros com maior número de contaminados com
computados até o dia 12/05, e os bairros que mais cresceram nos últimos anos
apontados anteriormente, verifica-se uma concentração de casos de COVID-19 naqueles mais verticalizados, com condomínios residenciais fechados como Jardins, Farolândia,
Atalaia, Luzia, Jabotiana, Grageru, Inácio Barbosa e Treze de Julho. Também foi nesses
bairros, onde a chegada de pessoas vindas de outros locais potencialmente mais
contaminados, que os primeiros casos se disseminaram para atingir a
população/habitações de menor poder aquisitivo.


Nesse caso, é relevante considerar o estudo realizado por pesquisadores da Aalto
University, na Finlândia, publicado em 6 de abril, que indica a relação do COVID-19 e
os elevadores, enfatizando a importância de evitar locais públicos e fechados na
presença de outras pessoas, em função das partículas com o vírus permanecerem no ar
por mais tempo que o esperado. Assim, essas informações reafirmam, para Aracaju, a
necessidade de adoção de medidas de isolamento das áreas de convívio social, ou seja,
espaços de lazer coletivos em condomínios fechados e loteamentos residenciais, em
especial, nos bairros mais verticalizados, com maiores vetores de contágio do vírus.

Grande parte dos moradores desses bairros estão cumprindo o isolamento social
em casa, trabalhando à distância nas suas habitações “saudáveis”, com água na torneira
e álcool gel disponíveis para sua higienização. Em contrapartida, há muitas famílias
com renda inferir a 3 salários mínimos, localizadas em bairros na zona norte e no Santa
Maria e 17 de Março, que lutam em meio às dificuldades de sobrevivência com recursos
escassos, a maioria oriunda do seu trabalho informal, sacrificado nesses tempos. Nesses,
a repercussão trágica da sobrecarga dos atendimentos públicos e da insuficiência de
leitos de internação são muito mais graves e letais.


De fato, a pandemia tem gerado inúmeras reflexões e considerações. No tocante
ao pensamento sobre a cidade, atrelada às condições de saúde, ficam escarancadas as
desigualdades sócioespaciais existentes, marcadas pela insuficiência de políticas que
democratizem o acesso às oportunidades urbanas para as populações mais fragilizadas.
Assim, reafirma-se a importância das políticas de controle da ocupação e
expansão urbana, refletida na legislação, em especial o Plano Diretor, associada ao
alerta da urgência de implementação de programas habitacionais, com moradia em áreas
com infraestrutura e saneamento básico, sobretudo, atreladas à geração de emprego e
renda.

É certo que não dá mais pra voltar ao normal porque esse normal era o grande
nó. A união da gestão, ciência e sociedade para vencer o agora e se preparar para o
amanhã é imprescindível. Que essa crise da pandemia seja aproveitada como um momento de estruturar, desde as raízes, outro modo de vida, promovendo cidades mais
democráticas, justas, igualitárias e saudáveis.

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