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Cloroquina: Farmácias de Sergipe venderam mais de 1,3 milhão de comprimidos 26 de Abril 11H:59
PODER | Por Max Augusto

Cloroquina: Farmácias de Sergipe venderam mais de 1,3 milhão de comprimidos

As farmácias de Sergipe venderam quase 56 mil caixas de cloroquina (exatamente 55.864) desde o início da pandemia. Isso dá uma média de 2.452 caixas para cada 100 mil habitantes, deixando o estado entre os dez que menos venderam o medicamento neste período. Ainda assim, levando em conta que cada caixa tem em média 24 comprimidos, mais de 1,3 milhão deles foram vendidos em Sergipe, desde março de 2020.

Os dados constam em uma reportagem da Agência Pública, que levantou dados junto à Anvisa e apresentou uma radiografia da venda da cloroquina e hidroxicloroquina no país, durante a epidemia de covid-19. Confira a seguir!

Farmácias venderam mais de 52 milhões de comprimidos do “kit covid” na pandemia
Hidroxicloroquina, propagandeada por Bolsonaro, teve mais de 1,3 milhão de caixas vendidas no país

Bianca Muniz, Bruno Fonseca
Agência Pública - apublica.org

Farmácias brasileiras venderam mais de 52 milhões de comprimidos de quatro medicamentos do chamado “kit covid” em um ano de pandemia: sulfato de hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e nitazoxanida. Segundo levantamento exclusivo da Agência Pública, foram vendidos mais de 6,6 milhões de frascos e caixas desses quatro remédios de março de 2020 a março de 2021.

Os números representam apenas as vendas desses medicamentos em farmácias privadas, isto é, não incluem o que foi aplicado em hospitais ou dispensado em postos do Sistema Único de Saúde (SUS). 

De acordo com o levantamento da Pública, dentre os quatro medicamentos, o que teve mais comprimidos vendidos foi a hidroxicloroquina — que o presidente Bolsonaro anunciou tomar quando foi diagnosticado com covid-19. Foram mais de 32 milhões de comprimidos vendidos desde março de 2020, um total de 1,3 milhão de caixas.

Desde o fim de março de 2020, a hidroxicloroquina entrou para a lista de medicamentos sujeitos a controle especial, junto à cloroquina, por decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Foi essa mudança na classificação que permitiu contabilizar a venda de hidroxicloroquina nessa base de substâncias.

A própria Anvisa reconheceu que a inclusão dos medicamentos na categoria tinha o objetivo de “coibir a compra indiscriminada de medicamentos” devido à pandemia, embora já tivesse alertado à época que “não existam estudos conclusivos sobre o uso desses fármacos para o tratamento da covid-19”. A bula da hidroxicloroquina prevê que ela seja utilizada para tratar malária ou certas doenças autoimunes, como lúpus e artrite reumatoide. 

Em segundo lugar nas vendas, a azitromicina, um antibiótico, teve mais de 13 milhões de comprimidos vendidos em farmácias brasileiras no mesmo período — mais de 3 milhões de caixas. Diferentemente da hidroxicloroquina, a azitromicina já estava no grupo de medicamentos sob controle especial ao menos desde 2010, quando a Anvisa definiu regra para controle de antibióticos. A venda da azitromicina nas farmácias brasileiras passou de uma média de 711 mil comprimidos por mês em 2019 para 1 milhão ao mês durante a pandemia. O uso previsto da azitromicina em bula é para o tratamento de doenças como bronquite, pneumonia, sinusite e faringite.

Tanto a hidroxicloroquina quanto a azitromicina tiveram o seu pico de vendas em março de 2021, mês com mais mortes por covid-19 desde o início da pandemia. Março foi também o mês com mais óbitos registrados na história do país, segundo cartórios de registro civil.

Já a ivermectina e a nitazoxanida, dois vermífugos, não estiveram na categoria de medicamentos de controle especial durante toda a pandemia — ou seja, os dados registram apenas uma parte da venda desses medicamentos nas farmácias brasileiras. A nitazoxanida entrou para o grupo de controle especial em abril e a ivermectina em julho. Em seguida, em agosto, o presidente Bolsonaro afirmou nas suas redes sociais que a Anvisa iria facilitar o acesso à hidroxicloroquina e ivermectina e que a população poderia comprar os medicamentos “com uma receita simples”. Em setembro, a ivermectina e a nitazoxanida foram excluídas da classificação da Anvisa de controle especial, permitindo o reaproveitamento da receita e a compra de mais remédios sem a necessidade de uma nova prescrição.

Goiás é onde mais se vendeu “kit covid” proporcionalmente
Foi o estado de Goiás onde foram vendidas mais caixas dos quatro medicamentos do kit covid em relação ao tamanho da população. É lá também onde mais se vendeu caixas de azitromicina proporcionalmente. Já o Distrito Federal foi onde mais foram vendidas hidroxicloroquina e ivermectina em relação à população, e o Amapá onde as vendas de nitazoxanida foram maiores proporcionalmente.

Por sua vez, São Paulo ocupa o topo entre os estados onde mais foram vendidos os quatro medicamentos do kit covid em número absoluto — cerca de 1,5 milhão de caixas, mais de um quinto do total vendido em farmácias brasileiras na pandemia. 

“Não há dúvida que o uso off-label (fora da finalidade da bula) é o responsável pelas grandes vendas desses e de outros medicamentos do ‘kit covid’, que muitas vezes são colocados em lugares estratégicos nos balcões das farmácias para chamar a atenção dos clientes”, afirma o pesquisador do Instituto de Física de São Carlos da USP e especialista em química medicinal, Adriano Andricopulo. “O aumento das vendas está associado à expectativa das pessoas, que infelizmente ainda é grande, de obter os possíveis benefícios terapêuticos e se protegerem contra a doença. Mas, esses medicamentos simplesmente não funcionam: o ‘kit’ não serve pra nada”, diz.

O uso de medicamentos do “kit covid” foi defendido e incentivado publicamente pelo presidente Jair Bolsonaro para o “tratamento precoce” da covid-19, apesar de ser desaconselhado ou refutado por órgãos de saúde e pesquisa nacionais e internacionais. Segundo protocolo da Organização Mundial da Saúde (OMS) de março de 2021, a hidroxicloroquina não é recomendada para pacientes com covid-19 independentemente do quadro de gravidade da doença; e a ivermectina é desaconselhada, exceto em pesquisas clínicas. 

No Brasil, diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmaram que não há medicamentos para prevenir ou tratar precocemente a doença; a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) não recomenda o tratamento e a Associação Médica Brasileira (AMB) publicou que os quatro medicamentos do kit não possuem eficácia científica comprovada e deveriam ser banidos do tratamento da covid-19. O Conselho Federal de Medicina, contudo, diz não apoiar nem condenar o tratamento precoce e defende que médicos podem definir o melhor tratamento para os pacientes.

Registros de efeitos adversos de medicamentos do “kit covid” aumentaram na pandemia
Com milhões de comprimidos vendidos, os registros de efeitos adversos causados pela administração de medicamentos do kit têm aumentado no Brasil. Desde abril do ano passado, a Anvisa recebeu 456 notificações de efeitos adversos sobre o uso dos quatro medicamentos do “kit covid” medicamentos. A quantidade é dez vezes mais que no mesmo período anterior, de abril de 2019 a abril de 2020.

Das notificações durante a pandemia, 173 foram graves. Os efeitos relatados mais comuns são sintomas cardiovasculares — como distúrbios no ritmo dos batimentos cardíacos —, dano hepático, diarreia e náuseas.

Segundo a pesquisadora em farmacologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Ana Paula Herrmann, todo medicamento tem efeitos adversos, embora muitas vezes os benefícios para a sua indicação superam os riscos. De acordo com ela, isso não ocorre com o kit covid. “O problema é que na ausência de benefícios, tudo o que sobra são os riscos. E aí não há nada que justifique o uso, porque os riscos podem, muitas vezes, serem imprevisíveis”. Herrmann comenta que efeitos adversos como arritmia e lesão renal causados pela associação de hidroxicloroquina e azitromicina são esperados, mas outros são desconhecidos porque até então estes medicamentos estavam restritos a um certo grupo de pacientes, e não eram utilizados por uma grande parte da população. 

 

 

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