Poder e Cotidiano em Sergipe
Aracaju, que saudade... 13 de Junho 8H:38

Aracaju, que saudade...

Os mais antigos, ao se depararem com as diferenças naturais entre as gerações, costumam fazer uso do bordão “No meu tempo...”. Desde que o prefeito João Alves assumiu a gestão municipal de Aracaju em janeiro de 2013, esse bordão foi democratizado. Do “alto” dos meus 28 anos, acompanho a minha geração não reconhecer mais a própria cidade, acompanho a minha geração se tornando saudosista.

 


Para além das transições tecnológicas, que remetem saudosismo ao MSN, Orkut, internet discada, entre outros, o jovem aracajuano sente saudade de enxergar sua cidade em processo de evolução.

 

Sentimos saudades de transitar por Aracaju e constatar a frequente manutenção das vias, sentimos saudades das implantações de novas ciclovias, de uma programação cultural plural e democrática como o Projeto Verão, de ter Aracaju conhecida Brasil a fora como uma cidade limpa e organizada, de estarmos entre os melhores índices de qualidade de vida do país. A Aracaju da constante evolução, que criamos identidade em nossa adolescência, se acabou.


De 2013 até hoje, conseguimos piorar em tudo que podia ser piorado.


Nas escolas públicas municipais, se acabou o modelo da gestão democrática. Se retirou da comunidade a prerrogativa da escolha dos diretores das Escolas onde matriculam seus filhos. Ainda na educação, tivemos que lidar com um escândalo no começo da gestão onde estudantes estavam sendo barrados numa Escola Municipal por não estarem trajando o novo uniforme, que carregava o novo símbolo e as cores partidárias da nova gestão. Os dois hospitais municipais construídos nas gestões Déda/Edvaldo (Fernando Franco na Zona Sul e Nestor Piva na Zona Norte) revezam o seu mau funcionamento com as greves, sejam elas de médicos, enfermeiros ou demais categorias ligadas à saúde.

 


Enfrentamos nos últimos meses uma inédita série de paralisações do serviço de coleta de lixo, e passamos de cidade com fama de limpa e ordeira para um depósito de lixo que acumulava criadouros de ratos e baratas em cada esquina. Esquinas essas, por sua vez, esburacadas. As vias de Aracaju se dividem entre esburacadas e desniveladas, ou anda-se desviando dos buracos ou quicando sobre os “remendos”. Como democratizar problemas parece ser um traço característico dessa gestão, isso não se aplica apenas as vias de veículos. As calçadas e os calçadões do centro da cidade acumulam buracos e desníveis que deixam clara a falta de zelo com a via pública.

 

E quando o motorista achava que se aborreceria apenas com os buracos, percebemos que tudo pode piorar. Numa tentativa desesperada e quase infantil de se cumprir ao menos uma das promessas de campanha, subestimou-se a inteligência do povo quando se gastou R$ 7 milhões para se pintar uma faixa azul dividindo as vias. Subestima-se ainda mais a inteligência do povo quando uma gestão que não construiu um metro de ciclovia, não propôs nenhuma alternativa de transporte que tire a população dos seus carros para aderir a um modelo mais sustentável de transporte, quer vender a essa mesma população que diminuir o espaço por onde circularão o mesmo número de automóveis é uma solução de trânsito. O resultado não poderia ser outro: Aracaju não tem mais horário de pico, temos congestionamento durante todo o dia, para qualquer lado que se vá.

 

Das promessas de campanha, talvez o aparelhamento da Guarda Municipal de Aracaju seja o que mais se aproxima de algum traço de concretude. A GMA hoje cumpre o papel de braço repressor de uma gestão ineficiente e antipopular, vide que funcionou muito bem para reprimir truculentamente os trabalhadores da limpeza urbana e os manifestantes sem teto na sede da prefeitura, mas mostrou-se ineficaz para diminuir o número de arrombamentos às escolas públicas na capital. De janeiro a abril deste ano mais de 20 escolas foram arrombadas em Aracaju.

 

Não surpreende que alguém que ascendeu ao posto de prefeito pela primeira vez através do braço armado da ditadura queira ter sua própria força de repressão.

 

Mas nem por tudo pode se responsabilizar o prefeito João Alves. Por muitas vezes, o mesmo parece carregar um ar cansado de muitos anos de vida pública, e se vê impedido de largar um osso já muito ruído por aqueles que o cercam e se beneficiam do seu exercício de poder. O que não podemos permitir é que isso aconteça com a chancela do voto popular. O ano de 2016, com todas suas conturbações políticas, traz ao povo de Aracaju a dura tarefa da autocrítica.
Somos vítimas, hoje, dos engodos eleitorais vendidos em 2012. João não foi a solução. E a renovação da Câmara de vereadores, que deixou alguns otimistas, reforçou a ideia que renovação e evolução têm conceitos diferentes.

 

Que Aracaju reaja e demonstre maturidade política em 2016. Que minha geração que, apesar de jovem, já carrega nas costas a experiência de quem viu postos na prática dois modelos antagônicos de gestão, saiba deixar de lado o clubismo “Petralhas vs. Coxinhas” difundido nacionalmente e opte pelo que deu certo, pelo melhor projeto para Aracaju. Até porque, não há recado melhor para golpistas que reagir através do voto.

 

Anderson Defon, militante do PT de Aracaju.

Foto/Ilustrativa: André Moreira

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