“Os partidos políticos são reféns dos interesses pessoais dos seus donos”, diz Dr. Emerson Ferreira

O vereador Emerson Ferreira, de Aracaju, deixou recentemente o PT e filiou-se ao Rede Sustentabilidade, partido da ex-senadora Marina Silva. No congresso realizado pela sigla, Emerson foi escolhido para disputar a Prefeitura da capital.


Para ele, se o pleito for polarizado pelos grupos políticos tradicionais, não haverá perspectivas de mudar as práticas e vícios da gestão pública.


Ele também diz que o prefeito João Alves Filho (DEM) tem um apego por grandes obras e aos velhos vícios da política – sem se adequar às novas exigências da gestão pública. Confira a entrevista.


BLOG DO MAX - A que se deve a sua saída do PT? Foi traumática?
Emerson Ferreira - Encerrei o meu ciclo de participação no PT. Sem traumas. Sigo em frente, com as lições do passado.


BM- Fatos como a prisão do líder do PT no Senado tornam difíceis a permanência de quadros importantes no partido?
EF - Compete ao PT e aos petistas fazerem essa avaliação.


BM- Por que escolheu a REDE? Esse partido possui realmente alguma proposta nova?
EF - Sim. A Rede surgiu a partir de um movimento supra-partidário e com uma proposta de nova política. Avalio que a Rede foi muito feliz ao elaborar o seu Estatuto, trazendo respostas sobre os problemas que impedem a democracia partidária e tornam os partidos políticos reféns dos interesses pessoais dos seus "donos". De que modo a Rede resolveu esse problema? Impedindo a reeleição dos mandatos de cargos políticos e de direção partidária. A direção partidária será colegiada, com cada coordenação sendo exercida por duas pessoas e obedecendo a distribuição por gênero.


BM– Mas e se alguém decidir tentar a reeleição?
EF - O parlamentar que descumprir os princípios e valores estatutários ou ocupar cargos executivos na administração pública terá que renunciar ao mandato. Para que pessoas sejam filiadas ao partido seus passados civil e político serão considerados. Ou seja, estamos protegidos, estatutariamente, contra os principais vícios que impedem o fortalecimento dos partidos como pilares da democracia. Do ponto de vista programático, importante destacar o conceito de sustentabilidade, não apenas circunscrito ao meio ambiente, mas também à sustentabilidade das políticas públicas da saúde, educação, sociais, da ética na política e da cidadania.


BM- O senhor é mesmo pré-candidato a prefeito de Aracaju, pela Rede? Mais algum nome no partido tem interesse nessa candidatura?
EF - Sim! Estou pré-candidato a prefeito de Aracaju, a partir de decisão tomada por aclamação em nosso Congresso Estadual, que indicou pré-candidatos para diversos municípios, como por exemplo, São Cristóvão e Canhoba, além de Aracaju.


BM- Em Sergipe, quem são os nomes de maior destaque que já se filiaram à Rede? O partido já tem quantos filiados? Está buscando nomes novos?
EF - Pecisaríamos estabelecer de qual conceito de importância estamos falando. Porque, na minha avaliação, já temos centenas de pessoas importantes filiadas à Rede no Estado de Sergipe. Importantes porque se enquadram no perfil estabelecido pelo nosso Estatuto, ou sejam pessoas comprometidas com a nova política. E é nesse sentido que convidamos os sergipanos e sergipanas com esse perfil, aquelas pessoas que acreditam no ativismo enquanto fator de transformação social, principalmente aquelas que nunca estiveram filiadas a partidos políticos. Venham construir o novo na política. Acessem o site www.redesustentabilidade.org.br e solicitem filiação. O seu pedido será avaliado com muito carinho e atenção.


BM - Como o senhor avalia a gestão do prefeito João Alves Filho?
EF - Continuo avaliando do mesmo modo que fiz para decidir meu voto, do mesmo modo que avaliei o candidato eleito e do mesmo modo que avalio desde o início do mandato do prefeito. Ou seja, sabia que estávamos diante de um político que, pelos inúmeros cargos que ocupou, impossível não ter serviços prestados. Mas que também estávamos diante de um gestor com apego por grandes obras, mas também aos vícios da velha política: patrimonialismo, fisiologismo, nepotismo e outros mais. Porém, nos tempos atuais, com recursos escassos e com leis que exigem mais transparência na gestão pública e que contemple a participação popular, que dialogue com a população, percebemos facilmente no prefeito João Alves, um gestor que não se adequou a essas exigências.


BM- O senhor acredita que a eleição do próximo ano será polarizada entre os dois principais grupos políticos, liderados por Jackson Barreto e João Alves Filho?
EF - Se for, não teremos perspectivas de mudarmos as práticas e vícios da gestão pública e tudo continuará como dantes. Com a palavra o povo de Aracaju. Este sim, tem o poder e a soberania para decidir o que quer. Não aceitando as promessas mentirosas, nem a influência dos  poderes político e econômico para decidir o seu voto.


BM - A Câmara de vereadores é hoje subserviente à Prefeitura? Os vereadores estão fiscalizando de verdade os trabalhos do governo municipal?
EF - Este não é um problema apenas da Câmara de Aracaju, mas de todo poder legislativo brasileiro. Está na nossa cultura política. Ou acabamos com essa relação de submissão, pautada no toma-lá-dá-cá, ou não poderemos falar em nova política.


BM - Quais são os maiores problemas de Aracaju hoje?
EF - Os problemas de quase todas as grandes cidades brasileiras, quase todas submetidas ao mesmo modelo de gestão pública, com os vícios que já me referi.
Cidades que não sabem como enfrentar e buscar soluções para os problemas de mobilidade e violência urbanas, da falta de sustentabilidade nas políticas públicas de saúde, educação e moradia. Precisamos estabelecer prioridades mediante diálogo permanente com a sociedade. Precisamos de um choque de gestão, de uma gestão efetivamente comprometida com novos valores.