Poder e Cotidiano em Sergipe
Mais de trinta anos marcam a história do Centro de Criatividade 19 de Junho 18H:19

Mais de trinta anos marcam a história do Centro de Criatividade

O sugestivo nome do “Centro de Criatividade” reflete muito do papel que esse espaço cultural teve, e volta a ter, na história de Aracaju e de Sergipe.

 

Fundado em 10 de maio de 1985, o local surgiu a partir de uma proposta de oferecer à comunidade e à cidade um espaço que abrigasse diversificadas atividades culturais.

 

“O Centro surgiu como uma unidade da secretaria de Estado da Cultura. A princípio ele tinha uma função de espaço de arte e educação, voltado para formação de professores relacionados a questões culturais sergipanas. Ao longo dos anos, houve inúmeras mudanças, se adaptando ao ritmo e às necessidades da população”, explica o atual diretor da unidade, Isaac Galvão.

 

No passado, abrigava a antiga caixa d’água da cidade, onde funcionavam os depósitos de água da região, que já estava abandonado quando surgiu a ideia de transformá-lo no Centro de Criatividade.

 

O projeto da obra foi desenvolvido pelo renomado arquiteto, Jaime Lerner, que procurou aproveitar a curvatura do morro para a construção das coberturas das salas e do restaurante.

 

Proprietário do tradicional Bar da Bisteca, que fica localizado em frente ao Centro de Criatividade, Antônio Carlos, conta que viu o espaço nascer e se transformar ao longo dos anos.

 

“Antes, o local abrigava uma caixa d’água desativada. Foi uma beleza, muito bom vê-lo sendo construído, o morro se transformar numa obra dessas. Tinham muitas atividades principalmente no mês de São João, que era todo de festa, e no mês de outubro que acontecia o festival de música novo canto, além de outros eventos esporádicos que apareciam”, lembra.

 

Arte e educação

O espaço foi idealizado e gerido pelo governo do Estado, que na época deixou essa incumbência com a professora e pesquisadora Aglaé Fontes.

 

“Fui convidada, nove meses antes da inauguração do Centro de Criatividade, para organizar o local. As obras já estavam definidas, mas existia a preocupação com a utilização do espaço. Tive o cuidado de fazer um trabalho de pesquisa sobre a história do bairro e planejar, por todo esse tempo, uma proposta de arte e educação. Eu era professora da Universidade Federal de Sergipe, e o governo do Estado me pediu emprestada por 20h semanais. Como eu fazia 40h, dividia o meu tempo entre lecionar aulas e planejar o Centro de Criatividade”, conta.

 

A área interna tinha salas para oficinas de arte, para exposições e um cinema. Cursos e oficinas de música, artes visuais, artesanatos, dança, teatro, atividades esportivas e apresentações artísticas logo começaram a ganhar o espaço, que naturalmente se incorporou a efervescência das atividades culturais que já existiam na comunidade.

 

“Moro ao lado do Centro há 30 anos, então, acompanhei toda a sua história. Participamos de diversas atividades que aconteciam nele. Ele sempre foi a maior referência da gente aqui e era muito bom ver a movimentação do bairro”, descreve Agnaldo Oliveira da Silva.

 

Todos os serviços prestados pelo Centro eram gratuitos. Existia um cinema, onde, duas vezes por semana, a população ia conferir filmes da época. Aos domingos, tinha um projeto chamado “Sempre aos Domingos”, que oferecia oficinas livres e apresentações de teatro.

 

“O compromisso do Centro com a formação de alunos e professores nos campos da arte e educação sempre foi muito intenso. Com isso, foram criadas as jornadas de estudo, aonde vinham professores e pesquisadores de fora para repassar suas experiências a todos que participavam”, relatou Aglaé.

 

Um dos primeiros projetos do Centro de Criatividade foi o Jornal Expressão, criado como um meio de registrar e divulgar as atividades do Centro de Criatividade para todo o estado. Eram feitos 3 mil exemplares e o jornal contava com o apoio do Banese na confecção.

 

“O banco tinha gráfica na época. Nós escrevíamos em máquinas elétricas, fotografávamos e, por fim, imprimíamos. A entrega era feita por todo o Brasil. Todo mundo sabia o que estava sendo feito na Cultura de Sergipe. Participei na época de um Encontro Internacional de Arte e Educação, em Cuba, para mostrar o que estava sendo feito. Inclusive essa viagem foi uma das matérias publicadas no Expressão”, contou Aglaé.

 

Arranca Unha

A inauguração contou com uma exposição sobre artistas que moravam no bairro Getúlio Vargas, homenageando personalidades da cultura popular do local como os músicos Irmão, Tonho Baixinho, Mestre Euclides e João da Cruz, que organizava o São João daquela área.

 

Ele promovia o casamento da roça, desfile junino e o tradicional concurso de quadrilhas juninas do Arraiá do Arranca Unha, que acontecia perto do Centro, em um espaço chamado “Cano 10”, onde alguns moradores se reuniam para decidir e organizar.

 

Foi assim que, a partir de junho de 1986, o Centro de Criatividade passou a ser a casa do Arraiá do Arranca Unha e do concurso de quadrilhas juninas que antes acontecia pelas ruas do bairro Getúlio Vargas.

 

Os festejos juninos foram sempre uma referencia nas atividades do Centro desde sua inauguração. “Em Aracaju, já existiam diversos arraiás de bairros, e no Getúlio Vargas criou-se o Arraiá do Arranca Unha, com o concurso de quadrilhas juninas, que veio a se consolidar ao longo dos anos como um dos melhores concursos do estado. A população sempre gostou do Arraiá do Centro de Criatividade por acontecer num anfiteatro, um ambiente diferente. São quase 2mil pessoas que comparecem ao Centro na época de São João, com apresentações de 30 a 40 grupos quadrilheiros”, conta Isaac Galvão.

 

O promotor de vendas, André do Vale, conta que sua primeira experiência dançando em quadrilha junina foi dançando no Centro de Criatividade, aos 12 anos de idade. “Foi aqui que eu comecei a participar e dançar quadrilha junina, com a Pioneiros da Roça, que nasceu no bairro, e hoje é considerada uma das mais importantes. Acompanhei sempre os concursos do Centro e é uma emoção muito grande ver ele renascer, porque quem viveu neste espaço brincou, dançou nas quadrilhas juninas e até ganhou títulos, como eu, tem um carinho enorme por este lugar”.

 

O Arraiá do Arranca Unha seguiu ao longo dos anos animando os festejos juninos de Aracaju até 2013, quando as atividades do Centro de Criatividade foram interrompidas para uma reforma de sua estrutura. Agora, depois de quatro anos sem atividades, o espaço ganha vida nova com a reinauguração da área externa no dia 21 de junho para receber mais uma edição do Arranca Unha.  

 

ASN

Foto: Secult

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